Mark Juergensmeyer é um sociólogo americano e acadêmico especializado em estudos globais e religiosos.É conhecido por estudos sobre religião comparada, violência religiosa e religião global. Juergensmeyer é Professor Emérito Distinto de Sociologia e Estudos Globais na Universidade da Califórnia, Santa Bárbara, e William F. Podlich Distinguished Fellow e Professor de Estudos Religiosos no Claremont McKenna College. É amplamente reconhecido como um especialista em violência religiosa, resolução de conflitos e religião e política do Sul da Ásia. Ao longo de sua carreira, publicou trinta livros e mais de 300 artigos.
Como as promessas divinas feitas nas escrituras judaicas, islâmicas e cristãs moldam as reivindicações territoriais em Israel e Palestina?
Não há promessas divinas de reivindicações territoriais no Islã ou no Cristianismo. No Judaísmo, no livro de Gênesis 12:7, Deus promete a terra de Canaã (atualmente Israel e Palestina) ao povo escolhido dos israelitas. Sionistas ardentes dizem que isso lhes dá um direito divino à terra.
Como a coexistência de locais sagrados compartilhados, como o Monte do Templo/Haram al-Sharif, intensifica ou alivia as tensões entre comunidades religiosas?
Espaços sagrados contestados são o foco da animosidade inter-religiosa em Jerusalém, assim como em outras partes do mundo. Na Índia, hindus enfurecidos destruíram uma antiga mesquita na cidade de Ayodhya, declarando que ela estava no local de nascimento do Deus Rama. Recentemente, um elaborado novo templo hindu foi construído nesse local e abençoado pelo Primeiro-Ministro da Índia, Narendra Modi, para o descontentamento da grande comunidade muçulmana da Índia.
Quais são as narrativas históricas e religiosas frequentemente citadas pelos líderes israelenses e palestinos para justificar suas posições no conflito?
Tanto israelenses quanto palestinos afirmam que sempre viveram na terra que actualmente consiste em Israel e Palestina, embora, no caso de Israel, os judeus tenham se espalhado por todo o mundo mediterrâneo e além após a destruição do templo principal em Jerusalém pelos romanos (no Monte do Templo, onde está localizado o santuário muçulmano Haram al Sharif). Eles só retornaram como colonos no final do século XIX e no século XX, mas em uma enorme onda após o holocausto nazista que matou milhões de judeus na Europa ocupada pelos alemães durante a Primeira Guerra Mundial. Portanto, os árabes palestinos não os veem como antigos israelitas, mas como europeus de fé judaica fazendo reivindicações territoriais sobre o que os palestinos consideram terra árabe.
Como os feriados religiosos, como o Yom Kippur, o Eid al-Fitr e o Natal, influenciam a dinâmica do conflito e da trégua na região?
Muitas vezes, esses feriados religiosos são momentos de maior conflito interreligioso, pois aumentam a sensação de uma comunidade religiosa controlar a outra.
Como os movimentos inter-religiosos que promovem a paz entre judeus, muçulmanos e cristãos superam os desafios impostos por séculos de desconfiança e conflito?
Os movimentos de paz inter-religiosos focam na interação entre indivíduos de diferentes fés, pois a intimidade pessoal pode levar à compreensão e à tolerância.
Qual é o papel das interpretações modernas das escrituras em contrastar ou perpetuar as tensões históricas entre israelenses e palestinos?
Muitos judeus modernos consideram a noção de "terra prometida" mais metafórica do que territorial. De maneira semelhante, os cristãos sempre consideraram "Sião" como um lar celestial e não como uma reivindicação territorial que muitos sionistas judeus insistem que ela indica.
Em que medida a educação religiosa em Israel e na Palestina contribui para moldar visões de mundo que apoiam ou desafiam o status quo do conflito?
Um importante movimento de paz judaico-muçulmano, que visa criar uma Confederação Israel-Palestina (www.ipconfederation.org), considera a educação como a principal necessidade para a compreensão entre as duas comunidades. Isso exigiria que todos os judeus estudassem o Islã e que os palestinos muçulmanos e cristãos estudassem o Judaísmo
Como as minorias cristãs em Israel e na Palestina navegam pelas tensões entre as duas religiões dominantes e qual é o papel na mediação do conflito?
A minoria mais significativa na região é a comunidade cristã palestina, tradicionalmente centrada em Belém. Eles se consideram árabes e tendem a apoiar movimentos políticos palestinos. A esposa da OLP (Organização para a Libertação da Palestina), Yassir Arafat, era uma cristã palestina, embora ele fosse muçulmano.
Quais são os impactos da diáspora judaica e muçulmana em amplificar as tensões ou promover a paz entre Israel e Palestina?
Actualmente, nos Estados Unidos, os movimentos de protesto contra o apoio dos EUA a Israel na guerra de Gaza têm intensificado as tensões entre muçulmanos e judeus americanos. Também gerou tensões dentro da comunidade judaica entre os apoiadores de Israel e aqueles judeus (muitos deles mais jovens) que ou apoiam os direitos dos palestinos ou desejam que os EUA sejam neutros no conflito.
Como os locais de peregrinação religiosa são geridos de forma a evitar ou exacerbar as tensões entre comunidades religiosas na região?
Até agora, os locais religiosos mais significativos para muçulmanos e judeus em Israel e na Cisjordânia controlada por Israel foram protegidos. No entanto, um ataque ao túmulo dos Patriarcas (as figuras bíblicas de Abraão, Sara e seu filho Isaac, venerados por judeus, muçulmanos e cristãos) em Hebrom, uma cidade majoritariamente muçulmana na Cisjordânia, acendeu o conflito inter-religioso, pois um residente judeu de um assentamento próximo atacou uma mesquita no local, matando um grande número de muçulmanos que estavam orando lá.
Quão eficazes têm sido as iniciativas de diálogo inter-religioso em mudar percepções e atitudes entre jovens israelenses e palestinos?
Existe um grande movimento de paz dentro de Israel e um número igualmente grande de muçulmanos e cristãos palestinos que desejam viver em paz com os israelenses. Infelizmente, os extremistas de ambos os lados exacerbaram as tensões e levaram ao recente conflito extremo em Gaza.
Quais são os principais desafios que as organizações religiosas enfrentam ao tentar criar narrativas de paz que competem com as narrativas de conflito arraigadas?
O principal obstáculo é o poder entrincheirado das forças extremistas pró-Israel e pró-Muçulmanos de ambos os lados, que não querem acomodar ou negociar com o outro lado, apesar dos sentimentos esmagadoramente favoráveis à paz da maioria dos israelenses e palestinos.
Qual é o papel das mulheres nas comunidades religiosas de Israel e Palestina no contexto do conflito? Como suas vozes influenciam a dinâmica e as perspectivas de paz?
Mulheres judias, muçulmanas e cristãs têm desempenhado papéis activos em cargos de liderança em movimentos de paz de ambos os lados da divisão.
Finalmente, gostaria de agradecer pela entrevista. Há alguma informação adicional ou aspecto do conflito que gostaria de compartilhar conosco?
Obrigado pelas perguntas. Ficarei feliz em esclarecer ou expandir essas respostas se você quiser, ou responder a perguntas adicionais. Desejo sucesso para sua publicação.
excelente